Uma impressora 3D para as massas

A impressão 3d tem dado que falar. Desde órgãos para humanos que possam vir a ser imprimidos à medida até armas de fogo indetetáveis por raio X, as manchetes dos media vão anunciando todo um mar de possibilidades para uma impressora 3d.

O preço das impressoras 3d tem descido rapidamente e alguns modelos de qualidade razoável adquirem-se por menos de 500€.

Como uma impressora 3d imprime quase tudo o que se possa imaginar, também imprime outras impressoras 3d. É este o mote por detrás do conceito de impressão 3d RepRap. A “primeira máquina fabricadora auto replicadora da humanidade” imprime as suas próprias peças, pois quase tudo o que não sejam ferragens e eletrónica é imprimível. Este tipo de desenhos está livremente acessível para todos pelos seus criadores, pelo que qualquer um pode localizar os componentes e montar em sua casa uma impressora, comprando as peças imprimidas e, depois, fazer outra impressora (ou outro conjunto de peças) com a primeira.

Fazer protótipos, maquetes, modelos, brinquedos, peças, instrumentos, ferramentas… A imaginação é o limite.

Robot imprimido em 3d
Boneco articulado imprimido em 3D, de uma só vez.

Para produzir algo verdadeiramente novo é necessário produzir um modelo tridimensional em software específico, mas a quantidade de modelos imprimíveis disponível gratuitamente na Internet é avassalador (ver aqui).

Um dos modelos mais usados de RepRap é a Prusa i3 (3ª iteração da impressora). Existem dezenas de variações deste modelo, já que qualquer um pode modificar e disponibilizar as suas alterações (o projeto das mesmas). O seu inventor (Josef Prüsa) abriu um negócio e vende a sua criação, para além de disponibilizar os seus desenhos gratuitamente. A prusa i3 mk2 (agora mk2s) é o último desenvolvimento da empresa que comercializa a i3 “original” e tem recebido notas em testes muito positivas.

Com base nisto resolvi adquirir uma impressora. Em kit, claro está. A ideia é: Se não existe, faz-se.

Prusa i3 mk2 desmontada

O kit em si vinha com instruções e embalagem dignas de Lego. É realmente só seguir as instruções atentamente para se ter uma montagem razoável. Como a impressora corrigirá pequenos erros com calibração automática, razoável serve.

Até as ferramentas necessárias estavam incluídas.

Montagem Prusa i3 MK2S original

Dito isto, a parte mais difícil é conseguir uma base (eixo Y) perfeitamente retangular e, posteriormente, perpendicular à estrutura de alumínio (eixo Z). É fácil de perceber que a impressora é tão perfeita quanto este alinhamento, mas esta permite até alguns desvios de alinhamento com compensação de software.

Duas horas depois (foi realmente a parte pior) fiquei satisfeito com a geometria (não precisei da correção por software, posteriormente).Prusa I3 mk2s calibration ok

A acrescentar às dicas do manual, tenho a acrescentar:

  • Medir as diagonais.
    • Como qualquer retângulo ou quadrado tem as diagonais iguais, quaisquer diferenças implica uma alteração da geometria (ângulos diferentes de 90º)

  • Medir a estrutura
    • Dado que a estrutura tem varões de 8mm duplos, é necessário que estes estejam à mesma distância das peças plásticas dos cantos.

Depois é tentativa e erro. Assim que as diagonais estiverem iguais está perfeito.

De um modo geral, a construção foi fácil e muito gratificante. Depois de ligada, a calibração decorreu sem nenhum percalço, e a primeira impressão foi ótima. E a segunda, e a terceira…

prusa i3 mk2s printing

Infelizmente algumas das peças tinham um problema de fabrico e começaram a estalar. Cola atrasou o problema, a fábrica assumiu o problema e enviou novas peças. Ainda melhor é que, entretanto, pude imprimir outras peças na minha própria impressora. A analogia é uma máquina velhinha que faz uma nova versão de si antes de deixar de funcionar :).

Prusa i3 mk2 printing parts

Como tive de desmontar a máquina, aproveitei para fazer upgrades. Tirei algumas ideias de outros utilizadores da impressora que foram criando pequenas alterações para melhorar a mesma.

Rolamentos de polímero (mais silenciosos).

Bishings rolamentos IGUS

Nova estrutura com reforços entre o eixo Y e Z, que ficou por uma dúzia de €. Basicamente são uns varões roscados (em aço inox) e porcas adicionais, com duas peças imprimíveis. Quem compra isto também pode comprar mais um varão roscado de 10mm e faz-se um eixo Y completamente novo (o antigo há-de dar para outra impressora low cost).

Um suporte de rolos de filamento universal, mais silencioso e muito mais prático. Tem a vantagem ainda de colocar os rolos mais baixos, o que pode ser importante se quiser colocar a impressora num armário (como eu fiz). Leva apenas rolamentos de patins/skate adicionalmente à impressão em ABS.

Um armário ventilado para a colocar, com insonorização com cortiça. A peça que segura um filtro de exaustão (carvão ativado) foi a primeira peça que desenhei em 3d. Usei o Tinkercad. Um armário Ikea, uma ventoinha de 12cm 12v e um transformador, cortiça 5mm autocolante completam a lista de materiais.

Tinkercad screen
Primeiro desenvolvimento no Tinkercad

Imprimir ferramenta?

micrómetro impressão 3d
Peça base de um micrómetro

Fazer um brinquedo novo?

brinquedo de esferas, em que elas sobem com uma manivela e descem por gravidade
Brinquedo de esferas, em que elas sobem com uma manivela e descem por gravidade
Spitfire Mk XVI
Spitfire Mk XVI imprimido (desenvolvido por 3d LabPrint). Este modelo pode voar!

Uma escultura?

Pietà imprimida 3d
Pietà (Michelangelo)

Depois de apreender a usar esta impressora, fica a sensação de que o limite é mesmo a imaginação. Tendo em conta a simplicidade da mesma, é possível (nada de extraordinário até) construir uma a partir de peças compradas aqui e ali. Não seria a minha recomendação para uma primeira abordagem, mas é perfeitamente possível.

Como fazer uma Casa da Árvore 2 – fixações na árvore

Esta é a segunda parte do projeto casa da árvore. Já vimos os preparativos e as fundações. Vamos analisar agora as fixações na árvore.

Este tema é muito importante… Numa árvore alta e uma casa unicamente fixada nesta, toda a estrutura assenta nestes pontos, pelo que a questão da segurança deve ser enfatizada. Facilmente se colocam 2 toneladas de madeira (e humanos pequenos e graúdos) em cima da estrutura, pelo que os pontos de suporte têm de ser capazes (e a árvore também).

Fixações na árvore
Uma das duas fixações principais da estrutura na árvore.

O básico dos suportes/ fixações na árvore

  • Usar o menor número possível de fixações na árvore: melhor um furo grande do que vários pequenos
  • Cada furo é uma “ferida”, nunca se devem fazer furos próximos, especialmente na vertical, pois as “feridas” tendem a juntar-se, apodrecendo o local de fixação
  • Pregos na árvore nunca são boa ideia: Para além da agressão, tendem a soltar-se facilmente, com o crescimento da árvore
  • Furos em profundidade não são piores para a árvore do que furos superficiais, e dão fixações mais seguras: A camada “viva” do tronco são os anéis mais externos.
  • Fixações específicas são muito caras, mas muito seguras. Grandes espessuras de aço carbónico (estrutural) temperado em varões roscados são baratas, mas implicam trabalho a adaptar.
  • Lembrar que o aço não é todo igual: Inoxidável é ótimo contra a corrosão mas tem menos resistência que aço estrutural classificado; Aço 8.8 é resistente, de fácil aquisição, e o preço é razoável. Tem de ser galvanizado ou zincado para melhor proteção de corrosão.
  • Parafusos grandes são caros, mas necessários.

Ferragens de fixação à árvore

Existem fixações específicas (Treehouse Attachment Bolt) para casas construídas em árvores. São mais resistentes e permitem movimentos da árvore independentemente da estrutura. Estes movimentos são pequenos mas muito poderosos, pelo que devem ser equacionados. É isso ou esperar que um dos elementos ceda (madeira ou parafuso).

Fixação profissional para casas na árvore
Fixação profissional em aço temperado, do criador original deste tipo de fixação.

Os movimentos da árvore são de especial consideração numa construção alta (os movimentos da árvore são maiores quanto mais longe do seu fulcro – o chão), e numa árvore mais fina, e, por isso, mais flexível. Não esquecer que a parte mais alta das árvores é também a mais fina, pelo que os movimentos são proporcionalmente ainda maiores.

Efeito do vento sobre o tronco da árvore
Efeito do vento no tronco da árvore: Fixações mais altas sofrerão maior deslocação relativa do tronco

Fixações na árvore: Lag bolts, Tirefond ou Tirafundos

Muito procurei lag bolts (tirefond, tirafundo) de 1 polegada de diâmetro (cerca de 2,54cm) de diâmetro, sem grande sucesso, pelo menos com preços aceitáveis. É ainda difícil arranjá-los em aço (muitos são de ferro). Depois têm de ter comprimentos na ordem dos 20 cm de penetração na árvore, o que dá (pelo menos) 24cm de parafuso. São monstruosos.

Acabei por comprar de 16mm de diâmetro e 16cm de comprimento para fixações acessórias, por exemplo, na ancoragem de “joelhos” a 45º à árvore. Estes servirão ainda para fixações seguras da estrutura de madeira.

Fixação na árvore com varão roscado aço 8.8
Esta é a fixação da viga principal na árvore. Varão roscado de aço 8.8 de 20mm. O “Joelho” do lado esquerdo está fixado à árvore com um Tirefond 16*160mm.

Fixações na árvore: Aço roscado 8.8

Rendi-me a utilizar varões de aço 8.8 roscado de metro. 8.8 é a classe de resistência, e neste caso o primeiro “8” refere-se a 800 N/mm² de resistência a tração e o “.8” a 80% desse valor em tensão de limite elástico. Mais vulgarmente utiliza-se aço sem classificação ou 4.8, que tem  metade da resistência. Por isso cuidado ao comprar. Normalmente o varão é pintado numa das pontas: Amarelo significa 8.8.

Aço roscado 8.8
Aço 8.8 roscado em varão (note a marca amarela – classe 8.8)

Estes varões podem ser cortados com uma rebarbadeira (ou serra, se houver paciência) na medida pretendida. Com algum esforço, um varão de pode ser inclusive atarraxado na madeira. A sua rosca está construída para aperto com porca métrica e não em madeira, mas a resistência à tração não é a característica que procuramos: É a resistência de cisalhamento, a resistência à dobra ou quebra quando aplicada a força da estrutura construída.  O truque para usar uma rosca métrica que fique fixa na madeira está em usar uma broca de madeira 1-2 mm mais fina do que o diâmetro nominal do varão.

Depois ainda é preciso a chave de impacto, paciência e lubrificação, pois o atrito gerado pela rosca é imenso. Na ausência de chave de impacto, ou se o atrito for demasiado, é necessária uma chave de canos (chave de tubos, chave stillson ou grifo) ou um tubo de aço comprido para fazer rodar uma chave de bocas normal. No meu caso usei azeite para lubrificar a rosca. Pareceu-me bem tratando-se de uma oliveira…

Pré furação para fixação de parafusos na árvore

Depois de escolher o local da fixação é necessário furar. Não existe inconveniente em furar a árvore de lado a lado. Isto até pode ser vantajoso, permitindo com o mesmo furo e maior resistência, fixações nos dois lados. Neste último caso a broca deve ter o mesmo diâmetro do parafuso a introduzir. Caso contrário, a furação deve ser equivalente ao menor diâmetro (interior) do parafuso. No caso de um Tirefond de 16mm nominais será cerca de 12 mm o diâmetro interno.

trados de madeira
Brocas de madeira grandes (trados – “auger”).

Ao fazer a furação, marcar na broca com fita adesiva a profundidade desejada, esta resultado da subtração ao comprimento nominal do parafuso da espessura do material a fixar na árvore. Ou seja, tábua de 4cm mais anilhas = furação de cerca de cerca de 11cm para um parafuso de 16cm. Usar um nível para furar horizontalmente e confirmar frequentemente. Usar a velocidade menor (maior binário = força) do berbequim. Estas brocas progridem muito bem mas exigem muito binário do equipamento (agarre-o com segurança).

Furo em oliveira para fixação de aço roscado
Furo para fixação numa árvore, neste caso de 18mm. Note e não repita o erro no corte do ramo. Primeiro cortar de baixo para cima e depois de cima para baixo, para evitar a queda e arranque pelo peso.

Fixar um varão roscado e usá-lo como parafuso à medida

Um varão roscado (ver acima) não tem “presa” para chave. Se a fixação é de lado a lado, introduz-se no furo e aperta-se com porcas de ambos os lados. Caso contrário, corta-se a medida pretendida e colocam-se duas porcas num dos lados, na extremidade. A porca mais externa aperta contra a interna e não rodará mais, permitindo o aperto de todo o conjunto.

Não é suposto ser um aperto fácil. Prepare-se para usar um tubo de aço para desmultiplicar a força ou a chave de tubos (Stillson, grifo) maior que encontrar.

Apertar fixação na árvore; chave stillson, chave de tubos, grifo
Quando a madeira é dura e o varão comprido, tem mesmo de ser com chave de tubos. Ainda bem que nos podemos revezar com um amigo… Note-se o pormenor da marca com fita adesiva, já perto da árvore, que determina a profundidade desejada.
Pormenor de estrutura de madeira fixada numa árvore
Se a árvore estiver inclinada pode afastar a estrutura (não convém que fique encostada) com uma ou mais porcas

Fixações na árvore: cuidado

Não menospreze este subtema. A falência destes suportes coloca em causa toda a sua estrutura. É melhor errar por excesso. Se não usar TAB’s, use uma varão de aço temperado 8.8 adequado. Existem disponíveis com 30mm de espessura, e são mais baratos do que parafusos equivalentes.

Note que nos exemplos acima a estrutura tem vários pontos de suporte ao chão, sendo a árvore responsável por uma pequena parte do peso a suportar.

De lembrar ainda que existe sempre um elo mais fraco, e esse pode ser a árvore. Escolher bem a mesma!

A estrutura acima tem dois pontos de fixação. No cimo ao centro vemos um varão de aço roscado, em baixo um Tirefond 16mm. Os “joelhos” estão fixos com parafusos de 12mm no suporte horizontal

 

Segurança no trabalho, projetos mais felizes

Este artigo abrange todos os aspetos de segurança e material de proteção relacionados com os passatempos/hobbies. Todos derivam dos necessários para os profissionais. O problema é que os profissionais tiveram treino específico, por vezes regulamentado e obrigatório. Aqui ficam algumas dicas sobre como trabalhar melhor, sem surpresas infelizes.

Este artigo não pretende substituir formação específica ou ser exaustivo, apenas alertar para os pormenores mais básicos dos aspetos relacionados com material de proteção e segurança, sobretudo no âmbito do que conheço melhor e já usei.

Só temos um corpo, temos de o preservar.

O vestuário para trabalhar

Como mínimo, a roupa deve cobrir todo o corpo. Isto é válido para a maioria das artes. Manga comprida, mesmo no calor, protege contra salpicos de produtos químicos, projéteis a baixas velocidades (rebarbas de metal, fragmentos de pedra), sol (não menosprezar) e diminui lesões relacionadas com farpas de madeira, arranhões, etc.

Pessoalmente gosto de usar calças de trabalho, porque são mais largas, confortáveis e resistentes que calças normais, por um preço por vezes bem mais barato (25-35€ por boas calças). Têm ainda muitos bolsos e, normalmente, locais para colocar joelheiras.

Joelheiras universais para calças de trabalho
Joelheiras universais para cortar à medida e colocar em calças de trabalho

Uma camisola de manga comprida e, eventualmente, um colete com mais uns bolsos completam a indumentária.

O calçado de segurança

Botas de trabalho são mais baratas do que ténis, duram mais e não são comparáveis em termos de proteção contra dissabores. Qualquer calçado de trabalho será melhor do que o que tiver lá por casa, mas, como características a procurar, tem:

  • Sola resistente a óleos; eventualmente resistente a altas temperaturas
  • Sola com proteção, pelo menos básica, contra perfurantes (pregos)
  • Preferencialmente de “cano” alto
  • Confortáveis e adequado à estação (alguns são específicos de verão ou inverno).
  • Com biqueira de aço ou plástico duro, para proteger os dedos dos pés.
Botas de segurança e calças de trabalho
Botas de segurança e calças de trabalho. Ao nível dos joelhos podem ser introduzidas esponjas para proteção dos mesmos

Calçado deste tipo começa nos 20€. Experimentar, valorizar o conforto e pensar bem no que se pretende. Existem galochas e sapatilhas com estas características, tudo depende dos trabalhos a realizar e do conforto pretendido. Um engenheiro ou fiscal pretende algo com que possa deslocar-se entre locais sem ter de trocar de calçado. Um trolha pretende funcionalidade e polivalência (conforto, impermeabilidade, resistência). Um eletricista poderá abdicar de alguns destes aspetos (não todos!) e um pedreiro poderá beneficiar de mais alguns (nomeadamente maior resistência a impactos).

Acessórios de proteção individual

Óculos de segurança

Uso sempre proteção ocular. Mesmo no meu trabalho diário esta é importante contra, por exemplo, salpicos de sangue durante um parto ou cirurgia.

Óculos de segurança
Óculos de segurança em policarbonato transparente.

Há vários tipos de óculos de proteção, seja ela genérica ou específica. Não me vou debruçar sobre proteção específica para, por exemplo, soldadura.

Os óculos de proteção são habitualmente produzidos num material chamado policarbonato. É um material plástico muito resistente contra impactos, e com característica óticas muito boas. É o mesmo material que compõe muitas das lentes dos óculos de sol normais.

As diferenças entre marcas situam-se, sobretudo, na durabilidade, conforto e  revestimentos (por exemplo anti-riscos e anti-embaciamento). Sendo um plástico, é realmente sujeito a riscos, pelo que se deve ter cuidado na sua limpeza (água e sabão, sempre).

Para não embaciarem, os revestimentos ajudam, mas nada como os manter limpos! Óculos perfeitamente desengordurados não embaciam tanto.

Uso dois tipos de óculos:

  • Os “normais” ou abertos para trabalhos genéricos (e maioria das situações). Estes são mais frescos, não incomodam e providenciam boa proteção.
  • Os fechados são importantes para trabalhos com grande quantidade de material projetado (rebarbar aço, cortar pedra, aplainar madeira, lixar). São mais difíceis de usar oferecem melhor proteção.

    Óculos e máscara de proteção contra poeiras nocivas.
    Proteção contra poeiras nocivas. Óculos fechados e máscara.

Em relação à cor das lentes, esta é habitualmente transparente (mais usual), escura (trabalhos ao sol) ou amarela (melhor contraste em situações de pouca luminosidade).

Máscara

Desde uma simples máscara para poeiras, descartável, até uma máscara para vapores com filtros substituíveis, há uma panóplia de opções nestes produtos.

Gosto das máscaras simples, descartáveis com válvula, já que o seu uso é esporádico. Para construir a casa da árvore, adquiri uma com melhor proteção, já que a madeira tratada em autoclave requer cuidados com as poeiras.

Máscara de segurança para poeiras
Máscara descartável adaptável, com válvula

Capacete

Um capacete plástico básico é requisito num local de construção, para todos. Não o usar é… arriscar. Que o digam todos os que, como deu, já deram umas cabeçadas desnecessárias…

No entanto, um chapéu com proteção dura pode ser um ótimo substituto, e até mais confortável. Dão também proteção para o sol. Adquiri um desde o último encontro imediato com um viga.

Capacete de proteção, óculos, luvas
Capacete de proteção clássico, óculos, luvas.

Luvas

Devo começar por lembrar que as luvas se devem ajustar convenientemente ao tamanho da mão. Como cirurgião, posso atestar que os meios tamanhos fazem toda a diferença na destreza dos gestos. Habitualmente não se encontra este pormenor em material de proteção para bricolage, mas desconfie de luvas com tamanhos “pequeno” e “grande” apenas, ou luvas com tamanho “7-9”. Ou é 7, ou 8, ou 9…

Para trabalhos pesados, com material com possa magoar as mãos, nada como umas boas luvas de cabedal.

Para trabalhos com óleos e outros químicos não perigosos, luvas cirúrgicas de vinil descartáveis não esterilizadas vendem-se em pacotes de 100 e são ótimas. O látex pode deteriorar-se mais rapidamente em contacto com hidrocarbonetos (óleo do carro, por exemplo) pelo que vinil será melhor opção.

Como luva polivalente, gosto de um bom par de luvas de nitrilo. São em tecido elástico, com revestimento flexível aborrachado, fino, com boa aderência e suave. Dão proteção razoável e ótima destreza, quando o tamanho é adequado.

Luvas de trabalho
Luvas flexíveis com revestimento em nitrilo. As minhas favoritas.

Trabalhos em altura

Tenho que avisar que, o melhor… é não os fazer. Não é à toa que indivíduos são especializados neste tipo de trabalhos. É claro que subir um escadote ou caminhar num andaime é já um trabalho em altura, e não deve ser menosprezado.

Se vai subir a uma escada tenha uma boa escada. Eu sei que parece filosofia barata, e me estou a repetir com a questão da qualidade, mas uma escada ou escadote tem de ser estáveis e estar em bom estado.

A trabalhar numa árvore ou telhado, como mínimo, um arnês (do tipo de escalada, por exemplo) com uma boa corda pode salvar-lhe a vida em caso de azar. Não esquecer que fazemos a nossa sorte!

Arnês de proteção
Arnês de proteção

Conclusão

Para além de uma ótima dose de bom senso e observação de boas práticas de segurança adequadas ao trabalho em questão, estes são os itens que devem estar a par do conjunto de ferramentas. Boas ferramentas e trabalhos fáceis são perigosos à mesma. O ideal é nunca facilitar. Nunca sabe se terá uma segunda.

 

Uma aplicação android? Porque não?

Desde que tinha iniciado os trabalhos, há vários anos, para produzir as curvas de peso fetal/recém nascidos para a população Portuguesa, que tinha definido com os meus colaboradores a facilitação do uso das mesmas como parte integrante dos trabalhos.Várias maneiras de o fazer foram equacionadas e estão em curso, em programas específicos de obstetrícia e ecografia, página web, etc. Surgiu então o desafio de um dos meus coautores para fazer uma app android.

Facilitador de programação android

Eu gosto muito de informática, mas não sou programador… pensei eu. Mas acontece que, para android, um grupo de investigadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology) resolveu criar uma forma bem mais fácil de um utilizador sem conhecimento de linguagens de programação produzir uma app de aspeto profissional, democratizando a produção de aplicações à medida para os utilizadores e, até mesmo, comerciais. Chama-se appinventor (http://appinventor.mit.edu) e é uma aplicação para criar aplicações. O preço ainda é melhor – completamente gratuito.

É claro que ainda implica alguma aprendizagem, e com certeza envolve algumas luzes de programação, algoritmos e lógica, mas quem souber o que é um if then else terá dias ao invés de meses de aprendizagem.

A plataforma tem agora um spin off comercial – thunkable (http://thunkable.com/) com uma roupagem mais profissional, mas muito parecida. Nota-se que as aplicações são visualmente um pouco mais polidas e em linha com as guidelines da Google atuais, mas perde alguma compatibilidade com as versões mais antigas de android (mesmo muito antigas, pelo que isto não será um problema). Para já, a plataforma thunkable também é gratuita, e tem a promessa de vir a ser compatível com iOS, o sistema operativo mobile da Apple.

IG calc PT - aplicação para cálculo do percentil de peso fetal e Idade Gestacional
Ecrã principal da aplicação android publicada
thunkable scren - IG calc PT - aplicação android para cálculo do percentil de peso fetal e Idade Gestacional
O mesmo ecrã mostrado acima na página de layout da thunkable
thunkable scren1 blocks
Blocos por detrás do ecrã mostrado acima – aqui se constrói a programação da app

O suporte da comunidade a esta iniciativa, como é habitual nas plataformas open source úteis, é fabuloso. Quase todas as perguntas têm resposta em múltiplos websites de programadores, fóruns, páginas pessoais… Imensos exemplos estão disponíveis, sendo uma questão de perseverança até se concretizar uma app decente.

Não, não dá para fazer tudo, mas dá para fazer aplicações muito complexas. Eu fiquei maravilhado com a possibilidade de testar a aplicação enquanto se constrói, vendo as mudanças em tempo real no smartphone. Para alguém com pouca experiência, a iteração tentativa – erro – tentativa é rapidíssima.

As imagens acima dão um exemplo de uma página com algum nível de complexidade. Envolve cálculos, seleção de ficheiros, identificação de erros de introdução e respetivas notificações. Numa página temos o aspeto gráfico para o utilizador, os componentes e ficheiros que desejamos utilizar. Debaixo do “capot” construímos a lógica das interações com um sistema de blocos de construção que impedem a maioria dos erros de principiante (se não encaixa, é porque não dá).

Abaixo vemos o exemplo de um bloco associado a um botão que, quando pressionado, abre uma página web no navegador predefinido, e parte de um procedimento que calcula a idade gestacional a partir do comprimento crânio caudal medido em ecografia.

thunkable open site block
Este bloco abre o browser na página indicada quando o botão é clicado.
thunkable calc block
Este bloco calcula a idade gestacional a partir do CRL – comprimento crânio caudal, se este estiver preenchido.

E porque não fazer uma app hoje?

A aplicação encontra-se disponível e gratuita para Portugal na Google play store:

Ver aplicação

Alguns screenshots da aplicação:

IG Calc PT página inicial com cálculo de IG
Página inicial com opção de cálculo de IG aberta e gravidez datada por ecografia do 1ºT
IG Calc PT percentil
Exemplo da notificação do significado do valor encontrado para o percentil, depois do cálculo
IG Calc PT página de cálculos adicionais
Página de cálculos adicionais
IG Calc PT página inicial com cálculo IG
Página inicial com opção de cálculo de IG aberta e gravidez datada por data da última menstruação
IG Calc PT página about
Página “acerca de”

 

Treino em laparoscopia | Simulador de laparoscopia

O treino específico com simuladores é fundamental para a melhoria permamente da capacidade técnica do cirurgião. Como fazer um simulador?

Cirurgia Minimamente Invasiva e Laparoscopia

A cirurgia minimamente invasiva tem um lugar muito importante na Ginecologia, tal como em muitas outras especialidades. No caso da ginecologia engloba fundamentalmente a histeroscopia e laparoscopia, técnicas bastante diferentes, mas ambas muito úteis.

Na histeroscopia, (procedimento diagnóstico ou cirúrgico intrauterino a partir da vagina e colo do útero, sem cicatrizes), a maior parte das técnicas cirúrgicas convencionais que esta veio substituir foram completamente abandonadas, dada a sua superioridade. Há pequenos procedimentos cirúrgicos histeroscópicos que podem inclusive ser realizados em consultório, sem anestesia, em poucos minutos, dada a sua acessibilidade e facilidade, com material e treino adequado.

Ilustração esquemática de histeroscopia (By BruceBlaus - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=44969115)
Ilustração esquemática de histeroscopia
(By BruceBlaus – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=44969115)

Tempos de recuperação mais curtos, menos dores, resultado estético melhor são algumas das vantagens usuais neste tipo de técnicas. Por vezes as vantagens estendem-se também a melhor exposição (visualização), em locais de difícil acesso e, com isso, melhor precisão cirúrgica.

Ilustração esquemática de cirurgia laparoscópica. (Blausen.com staff. "Blausen gallery 2014". Wikiversity Journal of Medicine. DOI:10.15347/wjm/2014.010. ISSN 20018762)
Ilustração esquemática de cirurgia laparoscópica (Blausen.com staff. “Blausen gallery 2014”. Wikiversity Journal of Medicine. DOI:10.15347/wjm/2014.010. ISSN 20018762)

Uso de simuladores

No entanto, o treino para este tipo de técnicas é específico e tem uma curva de aprendizagem algo mais lenta. Requer muita prática para rapidez de execução e bons resultados. Pelo que o treino é necessário, inicialmente para iniciar a técnica e permitir segurança nos procedimentos com doentes (mesmo nas ajudas a cirurgiões mais experientes) e depois, para aperfeiçoar e desenvolver as capacidades particulares de que as técnicas necessitam.

Na laparoscopia este treino passa pelo uso de simuladores, mais ou menos complexos, em que os cirurgiões desenvolvem e aperfeiçoam as técnicas que usam no dia-a-dia. Habitualmente existem simuladores construídos profissionalmente em cursos específicos e em alguns serviços hospitalares, mas são muito caros para aquisição individual. Como a prática leva à perfeição, e esta é uma área que me interessa muito, construí um simulador de baixo custo que permite o treino e aperfeiçoamento individual em casa (habitualmente a laparoscopia ginecológica envolve dois ou mais cirurgiões).

Como fazer um simulador de laparoscopia?

Foi um projeto realizado há cerca de 5 anos, e nem tudo correu bem à primeira. Algumas soluções não serviram, outras foram mudadas. O resultado final foi no entanto satisfatório e muito funcional.

Caixa de arrumação transformada em doente simulado
Caixa de arrumação transformada em doente simulado

Quando prometi a um colega um simulador igual ao meu, em 2013, resolvi fazer um vídeo para levar a um congresso da área. Com isto poderia ajudar outros cirurgiões que, como eu, acham que é sempre possível aperfeiçoar a destreza cirúrgica e querem fazê-lo também em casa.

base simulador laparoscopia
Base do simulador

A prática das técnicas e coordenação motora necessária à boa performance em laparoscopia, pelo uso regular de um aparelho deste tipo, comprovadamente melhora os resultados cirúrgicos deste conjunto de técnicas avançadas, tão úteis em ginecologia.

Por curiosidade, outras atividades que foram ligadas a boa destreza cirúrgica em endoscopia: tocar um instrumento musical regularmente e jogar videojogos.

De seguida o vídeo, com realização, representação, edição, locução e legendagem por mim (bom, música, parcialmente, também), pelo que me serviu para aprender muito também noutras áreas. A música é da Tuna Académica de Biomédicas, do seu primeiro CD.

Este vídeo foi apresentado no ESGE 22nd annual congress com o código V05.10, em 18/10/2013.