Lei 17/2016 da PMA – publicação da regulamentação

Foi hoje publicado o Decreto Regulamentar n.º 6/2016, que coloca em prática as alterações à lei da procriação médica assistida publicadas na lei 17/2016, de 20 de junho.

Injeção intracitoplasmátic de espermatozóide ICSI
ICSI – Ovócito antes de injeção intra-citoplasmática de espermatozóide
Por Dovidena [CC BY-SA 4.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0)]

O que mudou?

A grande alteração é a da garantia de acesso a todas as mulheres a técnicas de PMA. Ou seja, na redação do decreto: “casais de mulheres e a mulheres independentemente de um diagnóstico de infertilidade, do estado civil e da orientação sexual” podem beneficiar de técnicas de procriação medicamente assistida, como inseminação artificial, em centros de PMA públicos e privados.

Como ser referenciada à consulta de PMA?

A orientação para os hospitais públicos será feita como habitualmente, pelo médico de família ou a partir de outra consulta hospitalar. A diferença é que passarão a ser aceites não só casais mas também mulheres sem parceiro ou com parceiro feminino.

Que técnicas de PMA podem ser realizadas?

O acesso às técnicas é o mesmo que até agora estava reservado a casais com infertilidade, bem como as listas de espera. O documento reitera, logicamente, que na ausência de infertilidade, deva ser privilegiada a inseminação artificial.

Então está tudo pronto para que se comece a aplicar a lei 17/2016?

Existe ainda o problema dos dadores de esperma, assunto que já era problemático previamente, nos centros públicos. A procura de esperma de dador aumentará, o que terá de significar alterações no funcionamento dos centros públicos. Ou se aumentará drasticamente a infraestrutura implementada em Portugal (que tem um único banco público de gâmetas) ou se “importará” esperma de outros países, nomeadamente Espanha. O problema é que há atualmente poucos dadores no banco público. Os privados ultrapassam este problema com bancos de gâmetas próprios e/ou importação de gâmetas de outros centros/países.

O aumento da procura de tratamentos de PMA

Este aumento prevê-se, com uma possível afluência inicial dos pedidos de consulta de mulheres que tenham essa decisão já tomada. Tendo em conta que os tratamentos não poderão sofrer discriminação em termos de lista de espera, é de prever que as listas de espera se possam avolumar, pelo menos inicialmente, enquanto os centros de PMA públicos não se redimensionem para esta nova realidade. O tema dos dadores de gâmetas (neste caso masculinos) terá forçosamente um papel crucial nas listas de espera, já que os tratamentos agora regulamentados não se poderão fazer sem um aumento substancial daqueles.

 

 

 

O médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe

Esta é a máxima do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Não poderia rever-me mais nesta ideia em que, ao reduzir a nossa esfera de atuação, perdemos tanto do que nos ajuda a ser melhores.

A motivação

Gosto de construir coisas, produzir, fazer. Acho que os computadores são ferramentas fabulosas quando bem usadas, mas gosto ainda mais de os configurar, montar, reparar. Construir um muro, reparar um televisor, desmontar uma moto ou fazer a revisão do automóvel, escolher uma solução adequada e implementá-la. Metade do prazer está em aprender a fazer. É esta curiosidade que motiva os resultados. Os porquês que tanto se têm em criança e que, infelizmente, se vão perdendo enquanto “crescemos”, ou somos formatados, reduzidos na nossa imaginação.

É também isto que me fascina na medicina. É por isso que sou um profissional realizado. Ajudo pessoas todos os dias, tenho um trabalho entusiasmante porque é difícil, variado, apresenta desafios a toda a hora e, felizmente, grande parte são ultrapassáveis com a suficiente determinação. Tenho a melhor profissão do mundo, simplesmente porque é a que quero e na qual me sinto realizado. Realizado porque posso inclusive usar tudo o que aprendi fora da faculdade para o melhor cuidado dos meus doentes.

Nada com que se aprenda é tempo desperdiçado.