Este artigo abrange todos os aspetos de segurança e material de proteção relacionados com os passatempos/hobbies. Todos derivam dos necessários para os profissionais. O problema é que os profissionais tiveram treino específico, por vezes regulamentado e obrigatório. Aqui ficam algumas dicas sobre como trabalhar melhor, sem surpresas infelizes.
Este artigo não pretende substituir formação específica ou ser exaustivo, apenas alertar para os pormenores mais básicos dos aspetos relacionados com material de proteção e segurança, sobretudo no âmbito do que conheço melhor e já usei.
Só temos um corpo, temos de o preservar.
O vestuário para trabalhar
Como mínimo, a roupa deve cobrir todo o corpo. Isto é válido para a maioria das artes. Manga comprida, mesmo no calor, protege contra salpicos de produtos químicos, projéteis a baixas velocidades (rebarbas de metal, fragmentos de pedra), sol (não menosprezar) e diminui lesões relacionadas com farpas de madeira, arranhões, etc.
Pessoalmente gosto de usar calças de trabalho, porque são mais largas, confortáveis e resistentes que calças normais, por um preço por vezes bem mais barato (25-35€ por boas calças). Têm ainda muitos bolsos e, normalmente, locais para colocar joelheiras.
Uma camisola de manga comprida e, eventualmente, um colete com mais uns bolsos completam a indumentária.
O calçado de segurança
Botas de trabalho são mais baratas do que ténis, duram mais e não são comparáveis em termos de proteção contra dissabores. Qualquer calçado de trabalho será melhor do que o que tiver lá por casa, mas, como características a procurar, tem:
- Sola resistente a óleos; eventualmente resistente a altas temperaturas
- Sola com proteção, pelo menos básica, contra perfurantes (pregos)
- Preferencialmente de “cano” alto
- Confortáveis e adequado à estação (alguns são específicos de verão ou inverno).
- Com biqueira de aço ou plástico duro, para proteger os dedos dos pés.
Calçado deste tipo começa nos 20€. Experimentar, valorizar o conforto e pensar bem no que se pretende. Existem galochas e sapatilhas com estas características, tudo depende dos trabalhos a realizar e do conforto pretendido. Um engenheiro ou fiscal pretende algo com que possa deslocar-se entre locais sem ter de trocar de calçado. Um trolha pretende funcionalidade e polivalência (conforto, impermeabilidade, resistência). Um eletricista poderá abdicar de alguns destes aspetos (não todos!) e um pedreiro poderá beneficiar de mais alguns (nomeadamente maior resistência a impactos).
Acessórios de proteção individual
Óculos de segurança
Uso sempre proteção ocular. Mesmo no meu trabalho diário esta é importante contra, por exemplo, salpicos de sangue durante um parto ou cirurgia.
Há vários tipos de óculos de proteção, seja ela genérica ou específica. Não me vou debruçar sobre proteção específica para, por exemplo, soldadura.
Os óculos de proteção são habitualmente produzidos num material chamado policarbonato. É um material plástico muito resistente contra impactos, e com característica óticas muito boas. É o mesmo material que compõe muitas das lentes dos óculos de sol normais.
As diferenças entre marcas situam-se, sobretudo, na durabilidade, conforto e revestimentos (por exemplo anti-riscos e anti-embaciamento). Sendo um plástico, é realmente sujeito a riscos, pelo que se deve ter cuidado na sua limpeza (água e sabão, sempre).
Para não embaciarem, os revestimentos ajudam, mas nada como os manter limpos! Óculos perfeitamente desengordurados não embaciam tanto.
Uso dois tipos de óculos:
- Os “normais” ou abertos para trabalhos genéricos (e maioria das situações). Estes são mais frescos, não incomodam e providenciam boa proteção.
- Os fechados são importantes para trabalhos com grande quantidade de material projetado (rebarbar aço, cortar pedra, aplainar madeira, lixar). São mais difíceis de usar oferecem melhor proteção.
Em relação à cor das lentes, esta é habitualmente transparente (mais usual), escura (trabalhos ao sol) ou amarela (melhor contraste em situações de pouca luminosidade).
Máscara
Desde uma simples máscara para poeiras, descartável, até uma máscara para vapores com filtros substituíveis, há uma panóplia de opções nestes produtos.
Gosto das máscaras simples, descartáveis com válvula, já que o seu uso é esporádico. Para construir a casa da árvore, adquiri uma com melhor proteção, já que a madeira tratada em autoclave requer cuidados com as poeiras.
Capacete
Um capacete plástico básico é requisito num local de construção, para todos. Não o usar é… arriscar. Que o digam todos os que, como deu, já deram umas cabeçadas desnecessárias…
No entanto, um chapéu com proteção dura pode ser um ótimo substituto, e até mais confortável. Dão também proteção para o sol. Adquiri um desde o último encontro imediato com um viga.
Luvas
Devo começar por lembrar que as luvas se devem ajustar convenientemente ao tamanho da mão. Como cirurgião, posso atestar que os meios tamanhos fazem toda a diferença na destreza dos gestos. Habitualmente não se encontra este pormenor em material de proteção para bricolage, mas desconfie de luvas com tamanhos “pequeno” e “grande” apenas, ou luvas com tamanho “7-9”. Ou é 7, ou 8, ou 9…
Para trabalhos pesados, com material com possa magoar as mãos, nada como umas boas luvas de cabedal.
Para trabalhos com óleos e outros químicos não perigosos, luvas cirúrgicas de vinil descartáveis não esterilizadas vendem-se em pacotes de 100 e são ótimas. O látex pode deteriorar-se mais rapidamente em contacto com hidrocarbonetos (óleo do carro, por exemplo) pelo que vinil será melhor opção.
Como luva polivalente, gosto de um bom par de luvas de nitrilo. São em tecido elástico, com revestimento flexível aborrachado, fino, com boa aderência e suave. Dão proteção razoável e ótima destreza, quando o tamanho é adequado.
Trabalhos em altura
Tenho que avisar que, o melhor… é não os fazer. Não é à toa que indivíduos são especializados neste tipo de trabalhos. É claro que subir um escadote ou caminhar num andaime é já um trabalho em altura, e não deve ser menosprezado.
Se vai subir a uma escada tenha uma boa escada. Eu sei que parece filosofia barata, e me estou a repetir com a questão da qualidade, mas uma escada ou escadote tem de ser estáveis e estar em bom estado.
A trabalhar numa árvore ou telhado, como mínimo, um arnês (do tipo de escalada, por exemplo) com uma boa corda pode salvar-lhe a vida em caso de azar. Não esquecer que fazemos a nossa sorte!
Conclusão
Para além de uma ótima dose de bom senso e observação de boas práticas de segurança adequadas ao trabalho em questão, estes são os itens que devem estar a par do conjunto de ferramentas. Boas ferramentas e trabalhos fáceis são perigosos à mesma. O ideal é nunca facilitar. Nunca sabe se terá uma segunda.